Empatia: a estratégia da Apple

Por Luis Alt

20 de setembro de 2011

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Poucas pessoas podem dizer que realmente mudaram o mundo para melhor atualmente. Steve Jobs é uma delas. O que o empresário do Vale do Silício fez para a humanidade é algo que estamos até hoje tentando processar e seus impactos são impensáveis. Quem tem um produto da Apple sabe muito bem do que estou falando: a funcionalidade e usabilidade andando, como sempre deveriam ter estado, junto com a forma. Como resultado, nossa vida torna-se mais fácil graças às soluções do velho Jobs e sua equipe. Escrevo este post pouco menos de um mês depois de sua saída da Apple não pelos vários questionamentos que surgem para os acionistas da marca mas porque existe algo muito importante no que tange à abordagem do Design que desmistificaremos daqui para frente com os novos lançamentos da empresa da maçã. O novo LOGOBR não poderia ficar de fora dessa discussão.

Steve Jobs disse que “as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas.” Concordo plenamente com essa afirmação porém vejo que existe uma má interpretação dessa frase por parte de muitas pessoas, principalmente do mundo do Design. Alguns afirmam que Steve Jobs é um gênio e que a Apple não faz pesquisa com usuários ou testa seus produtos antes de lançá-los no mercado. E é aí que começa a confusão que poderemos desfazer agora que Steve não mais está na empresa …

Um dos elementos básicos do Design é a empatia. Tão fundamental que foi adotada pelo Design Thinking junto com colaboração e experimentação para formar o tripé de ouro da abordagem. Todo bom designer deve ser capaz de se colocar no lugar do usuário e propor soluções que sejam realmente feitas para ele – seja um projeto para algo fácil de criar contexto, como um tênis, ou seja uma peça para a produção de um componente de uma máquina de fabricação de peças de componentes de máquinas (deu pra entender?). Para alcançar um estado empático, nós designers utilizamos uma série de ferramentas que nos permitem entender profundamente para quem se destina o produto ou serviço que estamos projetando e assim sentir o que ele precisa ter e como precisa ser.

O trabalho de um designer se torna um pouco mais complicado quando, como no exemplo que dei da máquina, se colocar no lugar de quem utilizará a solução não é tão simples assim. Imagine, por exemplo, que você quer projetar uma nova forma para diagnosticar pacientes com diabetes. Ou projetar um computador para crianças em comunidades isoladas da África. Para fazer isso você tem que sair de sua zona de conforto e ir até os locais onde os usuários estão, conversar com eles, observar suas rotinas e tentar descobrir quais suas necessidades e desejos. Perceber o que conecta realmente com eles. É claro que essas informações não sairão explícitamente de suas bocas, mas o papel de um bom designer é juntar suficiente informação, estímulos de projeto, para que eles se transformem depois em soluções.

Esse árduo trabalho de entender os usuários é o que muitas pessoas julgam inexistente dentro das paredes da Apple. As pessoas acreditam apenas que Steve Jobs, como por espasmo, define novos objetivos – “vamos produzir agora um telefone!” – e depois corre, sozinho, atrás deles. Pois quero deixar aqui então dois questionamentos importantes antes de continuar:

  1. Não serão as pessoas que trabalham dentro da Apple os próprios usuários extremos que a empresa precisa entender para criar novos produtos?
  2. Com a exposição que a marca tem obtido ultimamente, não estaria cada vez mais fácil para a Apple entender quem são seus usuários, o que eles pensam e como eles estão usando seus produtos?
  3. Não seria o próprio Steve Jobs seu usuário principal, sua persona?

Pois é, acreditar que a Apple fecha os olhos para as pessoas é praticamente um absurdo. Imaginar que tudo que a empresa da maçã faz surge da mente brilhante de Steve Jobs também. É claro que eu não sei o que realmente acontece dentro da ultra-secreta área de desenvolvimento da Apple, mas para mim está claro que para os designers da Apple alcançarem um estado empático com seus usuários nunca foi tão fácil. O brilhantismo da Apple está em usar essa informação e saber criar as melhores ofertas de valor, propostas estas irrecusáveis para muitos e se adaptar rápido às mudanças. Bem rápido! Isso em um mundo como o que vivemos hoje, de constante mudança, é tão fundamental e foi tão bem executado pela Apple nos últimos 10 anos que a empresa se tornou a principal referência no setor de tecnologia do mundo.

A genialidade de Jobs está em acreditar no processo e investir nele, para que os produtos sejam lançados no mercado, um salto de fé que muitos CEO’s não estão dispostos a dar. É fácil continuar fazendo o que já se vem fazendo, Steve Jobs entrou para a história pois assumiu riscos constantes, procurando ir além disso a cada dia de trabalho dele. Longa vida a Jobs!

Na foto: Steve Jobs conversando com Jonathan Ive, designer, vice-presidente e um dos grandes responsáveis pelo sucesso da Apple, mas também não o único.