Recursos avançados OpenType para fontes digitais

Por Escritores convidados

15 de abril de 2009

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Aloha!

É com grande prazer que hoje, depois de muitos meses desde o convite e a espera do trâmite legal, publico esse ótimo artigo sobre OpenType (que via esclarecer muitas dúvidas sobre essa tecnologia) escrito pelo typedesigner, professor universitário e amigo Gustavo Lassala.

Se vocês tiverem perguntas a serem feitas, deixem nos comentários que (ele nem sabe disso =) o Gustavo, na medida do possível, irá responder ta legal!

Mandem para seus amigos da faculdade e do trabalho, no Twitter, no Delicious e etc., esse artigo merece ser divulgado. Espero que gostem!

Grande abraço

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por Gustava Lassala

Recursos avançados OpenType para fontes digitais

O alfabeto latino possui 26 letras, considerando-se os caracteres de A até Z. Ao pensarmos em uma fonte digital, automaticamente reduzimos o pensamento a essa conta. No entanto, uma fonte digital é muito mais que isso. Acrescentando as maiúsculas e minúsculas dobramos o número de letras para 52. Como se não bastasse, temos ainda os acentos, números, frações, símbolos matemáticos, monetários e pontuações.

As primeiras fontes digitais faziam uso do Código Norte-Americano Padronizado de Intercâmbio de Informação (ASCII). Esse código permitia o acesso a 128 caracteres por intermédio do teclado. Desses, 33 não eram imprimíveis, serviam apenas como caracteres de controle – atualmente obsoletos, por se tratarem de comandos voltados a máquinas como Teletype e fitas de papel perfurado. O restante são caracteres imprimíveis e ajudaram a formar a base das codificações atuais.

 

Figura1 – Exemplo ASCII com  95 caracteres imprimíveis

 

A necessidade de suporte à diferentes sistemas de escrita, fez com que o sistema de codificação evoluísse por meio de padronizações, até o que conhecemos hoje como Unicode. Ele permite alocar até cem mil caracteres, facilitando a escrita de línguas como o húngaro, polonês, romeno, tcheco, turco, vietnamita e assim por diante.

 

Figura2 – Na seqüência: húngaro, polonês, romeno, tcheco, turco e vietnamita

O Unicode também permite alocar em um mesmo arquivo, línguas latinas com o chinês, árabe, grego, cirílico, hebraico, etc. A essa altura você deve estar se perguntando: Mas para que vou precisar de tantos caracteres? Robert Bringhurst em seu livro “Elementos do Estilo Tipográfico” nos diz que essa quantidade toda de possibilidades serve para redatores, autores, tipógrafos e cidadãos comuns possam soletrar Dvořák, Miłosz, ou citar um verso de Sófocles ou Pushkin, ou até mesmo querer ler seus e-mails em um alfabeto não latino.

Pode-se dizer que uma fonte digital é um container de letras. Para definir uma sequência de letras para formar uma palavra, um programa qualquer de computador solicita a letra por meio do sistema operacional, que formaliza o pedido, entrando em contato com o Unicode de uma determinada fonte digital. Portanto, uma fonte digital é um software. O caminho de acesso para a letra depende do formato da fonte e do sistema operacional. Atualmente os formatos mais comuns no mercado são: TrueType, PostScript e OpenType.

O formato TrueType foi desenvolvido inicialmente pela Apple e contou com a colaboração da Microsoft. Ele foi criado para driblar os custos – caríssimos – de licenciamento do padrão PostScript  estabelecido pela Adobe. O TrueType armazena em um único arquivo informações para impressão e visualização em tela. Esse formato precisa de um arquivo específico para Mac ou Pc. Normalmente apresenta problemas de rasterização, não sendo muito indicado para geração de matrizes de impressão.

O formato PostScript foi criado para impressoras PostScript Tipo 1 e Rips pela Adobe. Cada fonte possui um arquivo para visualização em tela e outro para impressão. É necessário também um arquivo específico para Mac ou Pc. Os dois formatos de arquivo apresentados (TrueType e PostScript), podem conter no máximo 256 caracteres diferentes. Por está razão devem-se criar arquivos distintos para fontes com famílias muito extensas.

O formato OpenType, criado em conjunto pela Adobe e Microsoft como sucessor dos formatos anteriores, superou esse problema, permitindo alocar variações de estilo de uma família em um único arquivo – devido a sua grande capacidade de armazenamento de caracteres. A distribuidora de fontes FontShop nos mostra em seu site (www.fontshop.com) um exemplo concreto de eficiência do formato OpenType, comparando os arquivos da fonte FF Meta, criada pelo designer Erick Spiekermann.

Figura3 – Fonte digital FF Meta

A versão da FF Meta1 PostScript para Mac possui um pacote com 360 arquivos, pesando 23.6MB. A mesma fonte, agora chamada de FF Meta 1 OpenType Pro, possui 4 arquivos pesando 676KB. A empresa mostra que a redução de 360 para 4 arquivos, permite reduzir a possibilidade de perdas e conflitos de arquivo. Nesse aspecto o processo de uso de uma fonte nesse formato se torna algo muito mais simples.

Os benefícios do formato Opentype não param por ai. Ele procura combinar características dos dois formatos anteriores e vai além. Possui natureza multi-plataforma, você pode usar o mesmo arquivo em Mac e PC, sem a necessidade de conversão. Permite também agregar recursos avançados como capitulares, ligaturas, caracteres alternativos, formas históricas, alinhamentos óticos, idiomas diferentes, automatização de frações, ordinais, alocar ornamentos, entre outros recursos. Para se ter uma idéia da gama de possibilidades que esse formato oferece, podemos citar o caso da fonte Champion Script Pro, da type foundry Grega Parachute que contempla 4280 caracteres, com os sistemas de escrita Latino, Cirílico e Grego, mais 27 recursos avançados OpenType, incluindo 117 ornamentos e molduras na mesma fonte.

A FontShop, constrói um paralelo visual interessante mostrando a versatilidade do formato OpenType, por meio de um infográfico – no site da empresa -, comparando o Opentype com o antigo formato PostScript. Ali é mostrado de um lado, uma fonte PostScript representada por uma porção de ferramentas separadas e uma fonte OpenType como um canivete Suiço.

Não obstante, devemos atentar para o fato de que os recursos avançados de uma fonte digital (OpenType Features) só funcionam nos softwares da Adobe, notadamente, a partir das versões CS. Os recursos OpenType, em geral, são ativados na janela Character e elencam uma gama limitada de funções que podem variar dependendo do software e da versão.

 

Figura4 – Palheta OpenType do software Indesign CS2

Os designers de fontes têm disponível, atualmente, mais de 120 pré-definições de recursos avançados fornecidos pela Microsoft e Adobe. Apesar dos softwares muitas vezes não fornecerem suporte para todos os recursos avançados (features) disponíveis no mercado, a tendência futura é de crescimento a esse suporte e aumento das alternativas de configuração. Nas próximas imagens vamos conferir alguns exemplos de recursos avançados OpenType em fontes disponíveis no mercado:

 

Figura5 – Caracteres alternativos da fonte Montada – www.brtype.com

 

Figura6 – Ligaturas da fonte Boqueta – www.brtype.com

 

Figura7 – Automatização de frações da fonte Eklipse – www.nedertype.com

 

Figura8 – Números em estilo antigo da fonte Adriane – www.typefolio.com

 

Figura9 – Swash da fonte Jana Thork – www.outrasfontes.com

 

O cenário apresentado exige uma mudança de postura do consumidor final de fontes digitais. A tecnologia atual permite que a composição tipográfica se torne algo dinâmico e personalizado, algo até então muito pouco explorado ou conhecido pelos designers gráficos em geral. O designer gráfico que antes atentava apenas para a escolha tipográfica adequada ao projeto e concentrava esforços na diagramação harmônica do conteúdo, hoje deve somar esforços para conhecer de modo aprofundado a fonte digital escolhida. E ao final da composição revisar o projeto buscando implementar os recursos avançados de forma criativa e inteligente.

As informações sobre fontes digitais podem ser conseguidas facilmente visitando sites de grandes distribuidoras internacionais como FontShop, Myfonts, Veer, t26, etc; outra forma é por meio do specimen da fonte – que apresenta o projeto e fornece indicações de uso -, ou até mesmo pesquisando pelo autor do  projeto.

Gustavo Lassala é type designer e professor da Universidade Mackenzie e São Judas. Distribui suas fontes digitais por meio da fundição BRtype.