Naming: classificação de nomes para marcas

Por Daniel Campos

16 de outubro de 2015

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Aloha!

Há alguns anos tive o prazer de conhecer o prof. Delano Rodrigues, muito por seu excelente trabalho de pesquisa sobre dar nomes a marcas (produtos e serviços também), ofício conhecido como naming.

Em um mercado onde literatura sobre naming é ridiculamente escassa, a pesquisa do prof. Delano veio como água no deserto. Como consequência a editora 2AB publicou sob o nome Naming – O Nome da Marca.

Há alguns meses estava pesquisando sobre tipos de classificação (ou categorização) de nomes para marcas. Ao ler tal parte do livro do prof. Delano percebi o quão importante seria ter um texto sobre de classificação de nomes disponível a todos. Falei com ele sobre a possibilidade de publicar essa parte da pesquisa no LOGOBR e mais que rapidamente ele nos permitiu.

Deixo aqui registrado o meu agradecimento ao prof. Delano pela honra de poder publicar parte de sua pesquisa. Todos os diretos e créditos do texto abaixo pertencem ao prof. Delano Rodrigues. Indico a leitura do livro completo que já está em sua segunda edição, clique na imagem abaixo para comprar. Vale CADA centavo meu querido.

Naming - O nome da Marca

Introdução

O processo de desenvolvimento de nomes de marcas é conhecido dentro do Branding* como Naming e vem sendo executado por empresas de design, comunicação e consultorias especializadas com o intuito de criar nomes significativos para empresas e produtos. Envolve equipes interdisciplinares que buscam desenvolver nomes com personalidade, de fácil memorização e que sejam passíveis de registro legal.

Nomear uma marca é uma atividade complexa, principalmente quando se trata do lançamento de um novo produto ou empresa. O nome é, sem dúvida, um dos pontos de contato mais importantes de uma marca e contribui positivamente na construção de sua identidade. É uma espécie de “gatilho” de associações simbólicas da empresa ou produto. Quando percebido visual ou auditivamente, tem o poder de despertar pensamentos, impressões e experiências da marca que estão na mente dos seus públicos.

É notório que cada vez mais os designers – principalmente aqueles que lidam com as áreas de Identidade Corporativa e embalagem – são confrontados com a necessidade de inclusão de projetos de Naming em seus portfolios de serviços. Entender como outros nomes foram desenvolvidos, através do estabelecimento de uma taxonomia, pode facilitar a construção de métodos de pesquisa e desenvolvimento de nomes de marca por designers.

Este artigo é fruto de pesquisa bibliográfica desenvolvida entre os anos de 2003 e 2005, no Mestrado em Design da PUC-Rio, e evoluída nos anos subsequentes a partir de minha atuação como docente nesta mesma IES e atualmente na Universidade Federal do Maranhão. Para estabelecer uma classificação de nomes de marca, o trabalho se baseia na análise de estudos de dois autores da área de Design e um autor da área de Linguística.

Classificação de nomes de marcas

Os nomes de marcas podem ser classificados conforme particularidades específicas. A classificação permite compreender as diversas motivações que levaram os criadores de nomes a adotar uma ou outra solução para nomear organizações ou produtos. Para a realização deste trabalho, foram estudados três modelos de classificação apresentados por renomados autores: Per Mollerup, designer e pesquisador dinamarquês especialista em projetos de Identidade Corporativa, fundador da Mollerup Designlab, consultoria de design escandinava, e autor de diversas obras sobre marcas; Norberto Chaves, designer e professor argentino, especialista em Identidade Corporativa; e Adrian Room, linguista inglês, especialista em onomástica** e respeitado autor de artigos e livros sobre origem de nomes.

Para Mollerup (1998: 111-121), os nomes de marcas são divididos em seis classes: Próprios, Descritivos, Metafóricos, Encontrados, Artificiais e Abreviações. Norberto Chaves (1990: 43) classifica os nomes de marca em cinco categorias: Descritivos, Simbólicos, Patronímicos, Toponímicos e Contrações. Já Adrian Room (1987: 14-17) utiliza sete categorias para classificar nomes de marca: nomes baseados em nome de pessoa, nomes baseados em nome de lugar, nomes cientificamente inventados, nomes de status, nomes de associação positiva, nomes artificiais e nomes descritivos.


 * Branding é um sistema de ações interdisciplinares que visa o estabelecimento de imagens, percepções e associações pelas quais públicos de interesse se relacionam com uma marca. Em suma, é construir e administrar a identidade de uma marca através de todos os pontos de contato experienciados por seus públicos.
** Segundo o dicionário Houaiss On-line: o estudo linguístico dos nomes próprios; onomástico, onomatologia (compreende várias subdivisões, como a antroponímia, a astronímia, a mitonímia, a toponímia etc).

Buscando alcançar similaridades e diferenças, pôde-se delinear um modelo macro de classificação que, integrando todas essas classes e categorias, mostra a variedade de concepções criativas de nomes de marca.

1. Nomes patronímicos

A terminologia “patronímico” utilizada por Chaves faz alusão aos nomes de marca baseados em nomes de pessoas, seja do fundador, inventor ou dono da patente, do lojista ou de alguma outra pessoa associada com o produto. Mollerup chama essa categoria de “nomes próprios” e Adrian Room de “nomes baseados em um nome de pessoa”.

O uso de nomes patronímicos para nomear marcas foi uma prática fortemente empregada durante o século XIX e parte do século XX. Nomes como:

  • Colgate (William Colgate – 1804)
  • Procter&Gamble (William Procter e James Gamble – 1837)
  • C&A (os irmãos Clemens e August Brenninkmeyer – 1841)
  • Nestlé (Henri Nestlé – 1866)
  • Philips (Gerard Philips – 1891)
  • Gillette (King Camp Gillette – 1901)
  • Harley Davidson (William Harley e Arthur Davidson-1901)
  • Ford (Henry Ford – 1903)
  • Disney (Walt Disney –1920)
  • Ferrari (Enzo Ferrari – 1929)
  • Lacoste (René Lacoste – 1933)

São alguns exemplos de marcas ainda atuantes no mercado, que levam os nomes de seus fundadores.

Wheeler (2003:41) descreve que, embora esta classificação de nome possa ser de fácil registro em boa parte dos casos, exige, por outro lado, um maior esforço no processo de comunicação e, consequentemente, maior investimento financeiro na construção das associações da marca, por não descrever diretamente a natureza do negócio. Outro ponto importante é que esse tipo de nome é intrinsecamente ligado a uma pessoa ou família e esta relação pode transferir tanto aspectos positivos como negativos de personalidade.

Atualmente, essa abordagem de Naming é bastante utilizada para prática do licenciamento de nomes de personalidades do esporte e do entretenimento também conhecido como Licensing*. Comum nos Estados Unidos e Europa há bastante tempo, vem se tornando cada vez mais presente no Brasil.


* Segundo o Dicionário de Termos de Marketing, é a autorização para uso de determinado personagem, com exclusividade. Diz-se também da empresa que dá autorização à outra para produzir os mesmos tipos de produtos em outro local ou país. Em português usa-se a tradução Licenciamento.

Nike Air Jordan logo

Xuxa Produções


Exemplos de marcas patronímicas usadas em licenciamento – marcas do jogador de basquete norte- americano Michael Jordan e da apresentadora de TV, Xuxa Meneghel.

A particularidade neste tipo de caso é que o nome da marca funciona como elemento de transferência direta de aspectos de personalidade do personagem para o produto. Não que isso não acontecesse de alguma forma no passado, mas o que os antigos empreendedores do século XIX e XX buscavam era preencher de orgulho e responsabilidade a marca registrada, uma forma de dizer: “Nós garantimos este produto. Nós temos orgulho deste produto”. (Mollerup, 1998: 112). Já na prática do licenciamento, esta forma de “garantia” para o consumidor é geralmente responsabilidade de terceiros – os detentores da licença de uso e os donos das marcas apenas ficam responsáveis pelo gerenciamento de sua própria imagem.

2. Nomes descritivos

Os três autores usam a mesma denominação para os nomes de marca de natureza descritiva. Diferentemente dos nomes próprios, os nomes descritivos descrevem a natureza do negócio ou do produto de forma direta. Chaves (1990: 43) afirma que “é a enunciação sintética dos atributos da identidade da instituição”.

Nesta categoria enquadram-se nomes como: Banco do Brasil, Bando do Nordeste do Brasil, Museu de Arte de São Paulo e Empresa Brasileira de Telecomunicações.

Porém Mollerup (1998:113) pondera que os criadores de nomes estão tão ansiosos para encontrar o nome descritivo correto que se esquecem de que o nome pode se tornar demasiado longo para ser prático, o que na maioria das vezes exige que seja adotado o uso de uma abreviatura que acabará por não explicar a natureza do negócio. Tais abreviaturas muitas vezes estão na própria representação visual da marca, como os exemplos supracitados MASP e EMBRATEL, ou são oriundas de adoções vernaculares que podem ou não ser usadas na comunicação da marca. Nos outros dois exemplos supracitados isso acabou sendo incorporado com os já conhecidos BB e BNB.

O caso da empresa americana de encomendas FEDEX é notório quanto a esse aspecto. A empresa foi fundada em 1973 com o nome descritivo FEDERAL EXPRESS (Correio Expresso Federal) e naquele ano lançou o modelo de correio aéreo expresso entregando 186 encomendas todas as noites para vinte e cinco cidades dos Estados Unidos. A mudança de nome foi ocasionada pelo crescimento global da empresa: a identidade original com o nome FEDERAL EXPRESS era de difícil pronúncia em países de língua não inglesa e dificultava a expansão (Wheeler, 2003:140). A solução de alteração do nome veio a partir de um grande projeto de reformulação da identidade, coordenado pela consultoria de marca americana Landor Associates, entre os anos de 1997 e 2000. A Landor aproveitou o fato de que várias pessoas já chamavam a empresa popularmente pelo acrônimo* FEDEX e resolveu propor a efetivação deste nome para a marca. O termo é tão expressivo que é comum nos Estados Unidos o emprego da expressão “Did You FedEx it?” para confirmar se uma pessoa já enviou uma encomenda.


 * Segundo o dicionário Houaiss On-line: diz-se de ou palavra formada pela inicial ou por mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria destas partes (Sudam = Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia); acrossílabo.

Federal Express - logotipo antigo

FedEx - Novo logotipo


 Imagens das aplicações das identidades visuais da empresa FEDEX – a primeira foto mostra a aplicação do nome original e a segunda (e atual) a aplicação do novo nome da empresa.

O principal problema desta categoria de nomes segundo Graham e Peroff (1987:36) é que as marcas com nomes descritivos são as mais problemáticas para questões de registro legal. Wheeler (2004:41) aponta, ainda, que este tipo de nome pode causar limitações quando houver a necessidade de uma expansão geográfica ou uma diversificação da linha de atuação da empresa ou produto. Isto porque, às vezes, é impossível visualizar quais serão os rumos que o negócio da empresa irá tomar daqui a dez, vinte ou trinta anos, e um nome descritivo pode vir a “engessar” a percepção do consumidor a respeito do ramo de atividade da marca. Um caso bastante conhecido é o da antiga rede carioca de supermercados fundada com o nome de Casas da Banha, que originalmente fornecia banha e que se viu forçada a mudar seu nome para a abreviatura CB, quando passou a vender outros produtos e não somente a gordura animal que deu origem ao seu nome. (Strunck, 1989:46).

3. Nomes toponímicos

Chaves (1990:42) propõe o termo “toponímico” para referir-se a todos os nomes de marca que remetem ao lugar de origem ou de atuação inicial da instituição. Room (1987:14) os denomina de “nomes baseados em um nome de lugar”, quase sempre aquele do lugar original onde o produto foi inventado, vendido ou desenvolvido. Mollerup não faz qualquer menção específica a este tipo de nomes.

Um caso interessante é o da marca NOKIA, fabricante Finlandesa de telefones celulares. A empresa foi fundada em 1865 pelo engenheiro finlandês Fredrik Idestam que instalou um moinho de polpa de madeira para fabricação de papel às margens do rio Nokia onde, depois, originou-se a cidade de mesmo nome. O nome só passou a ser adotado oficialmente por Idestam a partir de 1870. Um fato curioso é que o nome não dificultou a enorme diversificação de atuação durante a história da companhia. De 1865 a 1917 a empresa atuou na área de fabricação de papel e geração de energia. Entre os anos de 1918 e 1966 ampliou o negócio para o segmento de artigos de borracha como botas e pneus, além de fabricar cabos. A partir de 1967, concentra esforços nas indústrias de borracha, florestal e de geração de energia, além de passar a fabricar eletrônicos. Nos anos 90, resolve abandonar todas essas áreas e focar o seu negócio no segmento de telecomunicações.

Atualmente, é comum que cidades e países utilizem seus nomes como marca para explorar potencialidades econômicas por meio de sua imagem. Essas marcas são usadas em programas de promoção, divulgação e apoio à comercialização de produtos, serviços e destinos turísticos e têm a função de ser um forte elemento de identidade. Esses programas são chamados de Place Branding ou Country Branding.

Dois exemplos recentes desse tipo de abordagem são os casos dos programas Marca Brasil e Estrada Real, lançados respectivamente pelo Ministério do Turismo do Governo Brasileiro e Governo Estadual de Minas Gerais para divulgar o turismo, produtos e belezas naturais.

Instituto Estrada Real Marca Brasil


Marca Brasil e Marca do Instituto Estrada Real – exemplos de nomes toponímicos e Place Branding

Graham e Peroff (1987: 35) alertam para algumas situações em que essa classe de nomes deva ser evitada, particularmente aqueles que têm associação, direta ou indireta, com um produto exclusivo, por exemplo, “Detroit” para carros e “Aspen” para equipamentos de esqui. Para eles, o uso deste artifício dificultaria o registro legal de marca.

4. Nomes metafóricos

Para Mollerup (1998:114), “nomes metafóricos” revelam a natureza dos negócios indiretamente. Referem-se a seu objeto através de uma qualidade comum, que provoca associações. Essa categoria é chamada por Chaves (1990:42) de “nomes simbólicos”, para quem são aqueles que fazem alusão à empresa por meio de uma imagem literária. Já na classificação de Room (1987:14), a que mais se assemelha é a categoria “nomes de boa associação”, que são baseados em uma história verdadeira ou objetiva da origem.

O nome da QUAKER, famosa marca de aveia fundada em 1877, foi tirado de uma enciclopédia por um dos fundadores da empresa, Henry Seymour. Faz referência a uma seita protestante do mesmo nome originada na Inglaterra no século XVII e muito difundida nos EUA, que cultivava pureza, honestidade, força e coragem. A adoção do nome QUAKER trazia essas associações positivas para a farinha de aveia (Room, 1982: 97 e 143).

Para Mollerup (1998:114) os carros MUSTANG utilizam a associação com os cavalos da raça Mustang para simbolizar elegância e rapidez desse animal. Ao usar este tipo de artifício para nomear o carro, o animal tornou-se uma metáfora das qualidades imaginadas para o produto. Diversas marcas se apoiam em associações metafóricas de animais, CAMEL, PELIKAN, PUMA entre outras.

A marca de automóveis JAGUAR usa a metáfora de imponência, força e agilidade do animal, ampliada através do símbolo de sua marca pela utilização da famosa imagem de um Jaguar saltando.

Jaguar logo


 Símbolo e logotipo da marca de automóveis Jaguar

5. Nomes encontrados

Para Mollerup (1998:115) um “nome encontrado” é uma palavra já conhecida, que não possui uma relação natural com o que a companhia ou produto representa. Adrian Room e Norberto Chaves não fazem referência a esta categoria. Esses nomes não trazem de imediato qualquer significado para a marca e dependem de grandes investimentos em comunicação para serem associados aos seus produtos ou empresas.

O nome da empresa de telefonia móvel franco-britânica ORANGE (Fig. 05), que atua na Europa, iniciou uma forte tendência na área de telefonia móvel ao uso de nomes encontrados. O conceito deste nome surgiu da parceria entre a consultoria de marca, Wolff Olins, e da agência de propaganda WCRS, ambas sediadas em Londres, na Inglaterra. Graças a um grande esforço de comunicação da marca, grande parte das pessoas na Europa já associa o nome à empresa e não mais somente à fruta e à cor de mesmo nome (Pringle e Gordon, 2001: 77-80).

Orange Telecom


Marca da empresa de telefonia móvel ORANGE

A Wolff Olins praticamente implantou uma “febre” de nomes encontrados na área de telefonia móvel. Duas empresas brasileiras deste ramo, a OI e a VIVO, também tiveram nomes e projetos de identidade propostos por esta consultoria. Entretanto nesses casos, diferentemente da ORANGE, o significado das palavras foi utilizado de alguma forma nos programas de comunicação das identidades destas marcas. A OI, por exemplo, associa a simplicidade da expressão que é utilizada como saudação em toda a sua comunicação.

6. Nomes artificiais

O termo “nomes artificiais”, utilizado tanto por Room quanto por Mollerup, engloba os neologismos, oriundos de palavras completamente novas que geralmente não fazem parte do léxico – podem ser onomatopéias, pedaços de palavras ou junção destas.

Um caso bastante interessante de nomes artificiais, sem dúvida, é o da KODAK. Apesar do mito construído em torno do nome divulgado por diversos autores que dizem se tratar de uma onomatopéia do som das máquinas de fotografia, Room (1987:16) afirma que este nome foi criado pelo fundador da companhia, George Eastman, que o registrou em 4 de setembro de 1888 e buscou usar a sonoridade da letra “K”. Para comprovar esta versão, Room (1987:16) cita a explicação da criação dada pelo próprio Eastman:

Eu soube que um nome comercial deveria ser curto, vigoroso, incapaz de ser soletrado incorretamente para uma extensão que possa destruir sua identidade e, em ordem para satisfazer as leis de registro de marca, não deve significar nada. A letra ‘K’ era favorita para mim – parecia forte, um tipo incisivo de letra. Portanto, eu desejei começar a palavra com a letra K. Então se tornou em uma questão experimentar um grande número de combinações de letras que produzissem palavras começadas e terminadas com o K. A palavra Kodak é o resultado.

O uso da junção de pedaços de palavras também é bastante empregado. Casos como os da INTELIG e LUBRAX se encaixam nessa abordagem. O nome INTELIG foi desenvolvido pela consultoria de marca paulista Cauduro/Martino, para o grupo italiano Bonari, que determinou que o nome da nova empresa deveria ser de fácil compreensão – uma marca independente de idiomas, com a mesma pronúncia em português, inglês, espanhol etc Dränger (2001:46 in Revista Design Gráfico). O nome, parte da palavra INTELIGENTE, ao mesmo tempo em que remete a esta, possui uma sonoridade na última sílaba – LIG – que sugere o imperativo “ligue”, uma excelente associação para o tipo de atuação da marca.

O nome da família de óleos lubrificantes LUBRAX surgiu em 1970 da parceria do poeta, estudioso da área de comunicação e semiótica e professor Décio Pignatari com o escritório carioca de design PVDI, na época comandado pelo notório Aluisio Magalhães. Curiosamente, o nome proposto inicialmente para a marca foi o de LUBROL, que era a junção de pedaços das palavras Lubrificante, somado ao BR que já era parte da identidade da marca PETROBRAS (empresa fabricante do produto) e à palavra Óleo. Porém, a ideia foi abandonada porque a direção da empresa achou que o nome possuía uma conotação de “remédio”. O nome LUBRAX era originalmente utilizado para nomear as graxas fabricadas pela empresa, resultante da soma de pedaços das palavras Lubrificante, Graxa e acréscimo do BR. A utilização do BR fazia parte do projeto de construção da identidade gerenciado, naquela ocasião, pela PVDI (Rodrigues, 2004: entrevista gravada).

A vantagem deste tipo de abordagem é que o nome pode adquirir praticamente qualquer tipo de acepção, porque as palavras não têm nenhum significado intrínseco. A desvantagem é que, para que isso aconteça, é preciso dispor de um grande orçamento de propaganda para comunicar o nome entre os usuários.

7. Abreviações

Para Mollerup (1998:117), quando nomes de empresas se tornam muito longos e dificultam a comunicação da marca, sempre há a opção de introduzir abreviações. Elas ocorrem em uma suspensão*, em que a última parte de uma palavra ou nome é retirada, ou podem ocorrer em uma contração, em que a primeira e a última parte são mantidas, enquanto alguma parte do meio é retirada: jr., por exemplo, é uma contração de júnior. Chaves (1990:42) denomina esses nomes de “contrações”, que são construções de nomes artificiais mediante o uso de iniciais e fragmentos de palavras.

Mollerup (1998:117) propõe uma subdivisão desta categoria, para sustentar a operacionalidade da sua proposta de classificação. Para ele, suspensões e contrações não devem ser usadas como princípios de divisão. Em substituição, a primeira divisão de abreviações é separada por abreviações de iniciais e de não-iniciais.

7.1 Abreviações de iniciais

Segundo Mollerup (1998:118), algumas abreviações de iniciais não são amigáveis e aparentam ser burocráticas. Outras geram dificuldade para memorização; existem as que parecem fornecer mais anonimato que identidade e, algumas vezes, a mesma abreviação é usada para mais de uma organização. Grandes companhias como a IBM (International Business Machines Corporation) e GM (General Motors) não se tornaram grandes por causa de suas abreviações de iniciais. Elas se permitiram abreviar seus nomes porque já eram grandes. As abreviações de iniciais são subdivididas em acrônimos e não acrônimos.

“Acrônimos” são abreviações de iniciais que formam novas palavras pronunciáveis semelhantes à TAM (Transportes Aéreos Marília), VARIG (Viação Aérea Rio Grandense), EMBRATEL (Empresa Brasileira de Telecomunicações), PETROBRAS (Petróleo Brasileiro S/A) etc. Conforme Mollerup (1998:119), quando as pessoas esquecem que acrônimos são abreviações, os acrônimos tornam-se nomes com direito próprio. A seguradora americana Metropolitan Life também se encaixa nessa categoria, pois atualmente usa a abreviação sonora do seu nome para METLIFE (Fig. 09).

MetLife logotipo

Logotipo da seguradora Norte-americana METLIFE

Acrônimos são mais amigáveis e fáceis de serem lembrados e relembrados que as abreviações de iniciais não acrônimas. Um exemplo dessa categoria é da empresa sueca de produtos para casa e escritório IKEA. Este nome é uma composição das iniciais de seu fundador Ingvar Kamprad e do município onde ele nasceu no sul da Suécia, Elmtaryd Agunnaryd.

Já as abreviações de iniciais não-acrônimas são aquelas pronunciadas como a soma das letras individuais e, portanto, não são acrônimas. Diversas redes de televisão se encaixam nessa abordagem, tais como BBC, CNT, SBT, CNN e MTV. As marcas IBM, YPF (Yaciementos Petrolíferos Argentinos) e GM também fazem parte desta categoria.


 * Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é um termo utilizado na estilística e gramática para designar interrupção intencional de uma frase; pausa, reticência.

7.2 Abreviações de não iniciais

Algumas vezes os nomes de empresas são determinados pelo conteúdo fonético da abreviação do nome original. Este é o caso de BRADESCO (Banco Brasileiro de Descontos). Outro exemplo é o nome ESSO, abreviação fonética de Standard Oil na língua inglesa.

Esso

8. Nomes de Status

Essa categoria é utilizada por Room (1987:14) para designar nomes que, através de sua sonoridade e significado, remetem a condições de status, como:

  • Crown Pianos
  • Diamante Negro
  • Minister
  • Consul

Entretanto, essa categoria também pode ser considerada metafórica, porque trabalha por associação, ligada diretamente ou ao significado da palavra ou ao universo simbólico remetido pelo país de origem da língua. Diversas vezes o uso de empréstimos linguísticos de outras línguas, chamados de estrangeirismos, é a forma para buscar referências culturais de “qualidade” ou de “status” compreendidos por membros de uma determinada comunidade linguística.

A designer Evelyn Grumach (2004: entrevista gravada) acredita que existe uma forte tendência no mercado brasileiro à adoção de palavras estrangeiras, principalmente de origem inglesa, em busca de referências de status. Ela cita exemplos de projetos que coordenou como o da loja de roupas femininas OH BOY e dos restaurantes Delight e The bakers, do Rio de Janeiro. Ela diz que é bastante comum no setor do comércio a necessidade de se estar na “média”, “de serem confundidos entre si”, por receio de adotarem uma estratégia errada, e critica essa posição dizendo que poderia ser um forte diferencial de marca a utilização de expressões em português.

Conclusões

O caráter interdisciplinar do design permite ao profissional da área participar efetivamente de ações ligadas ao processo de gestão e construção de identidade de marca, mesmo que transcendam ao escopo original das atividades do designer.

O design exerce uma ação direta na construção de significados. O nome de uma marca é um dos elementos de expressão mais importantes para a construção de sua identidade. Mesmo que a atividade do Naming faça parte de portfolios de serviços de alguns escritórios de design brasileiros, muitos profissionais aprenderam a lidar com o processo através de “erros” e “acertos” durante sua atuação no mercado, pois são poucos os cursos e pesquisas desenvolvidos nesta área no Brasil.

Entender como nomes foram originalmente desenvolvidos pode facilitar a compreensão dos processos metodológicos utilizados em suas escolhas e a busca de novos métodos que possam ser integrados a programas de identidade corporativa desenvolvidos por profissionais de Design.